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  • Caio Duarte

Câncer e CRISPR: Uma alternativa de tratamento

O câncer é um termo que abrange mais de 100 tipos diferentes de doenças malignas que invadem tecidos e órgãos e possuem como característica o crescimento desordenado de células. De acordo com a OPAS (Organização Pan-Americana da Saúde), é a segunda maior causa de morte no mundo, sendo responsável por cerca de 9,6 milhões de mortes no ano de 2018, e podem ser causados por fatores diversos que vão desde a exposição à agentes cancerígenos (físicos, químicos e biológicos) até hábitos como o consumo de álcool e tabaco, que favorecem o desenvolvimento de tumores malignos ou neoplasias.

O CRISPR, ou “Conjunto de Repetições Palindrômicas Curtas Regularmente Espaçadas”, é uma região do genoma de bactérias que possui sequências curtas e repetidas de DNA, e cientistas descobriram que faz parte do sistema de defesa desses microrganismos contra infecções virais. Após a descoberta do mecanismo que é capaz de fazer alterações no código genético dessas bactérias, foram desenvolvidos estudos que possibilitaram a aplicação deste nas diversas áreas da biotecnologia no geral.

Mas como esses dois tópicos podem se relacionar?

O CRISPR no tratamento de Câncer

A descoberta e utilização do sistema CRISPR em células Eucariotas foi um grande avanço na Biologia Molecular e em todas as áreas das quais a tangenciam, resultando em um Prêmio Nobel de Química no ano de 2020 para as cientistas descobridoras do mecanismo. Por ser um sistema versátil e de alta especificidade e eficácia, o CRISPR vem sendo usado em diversos modelos experimentais, incluindo linhagens celulares, animais, plantas e análises clínicas em seres humanos, e desde essa adaptação desse mecanismo bacteriano para organismos diferentes, o impacto sobre o entendimento da biologia do câncer continua a gerar descobertas que prometem acelerar o diagnóstico e o tratamento dessa patologia grave.


Como o câncer é uma doença causada por alterações genéticas que influenciam no comportamento celular, e o método CRISPR é um sistema de edição genômica, o intuito do tratamento de cânceres com o mecanismo é suprimir oncogênese (genes ligados ao surgimento de tumores malignos e benignos) e não permitir a inativação de supressores de tumores e a desregulação do epigenoma (dinâmica de expressão genética) por parte da célula com potencial tumoral.

Além de um tratamento mais direto, o CRISPR também pode ser usado para identificar novos alvos de drogas nas células cancerosas por um rastreamento genético feito utilizando o mecanismo, além de poder identificar interações gênicas que possam ser úteis para bloquear a resistência a medicamentos usados em tratamentos atualmente.


Limitações

Apesar de ser um sistema muito promissor em suas diversas aplicações, o mecanismo ainda sofre de algumas limitações e preocupações por parte de toda a comunidade científica. O CRISPR pode editar geneticamente alguma região fora do gene alvo, podendo gerar mutações indesejadas. Além disso, alguns estudos já relataram grandes deleções gênicas que levaram ao desaparecimento de funções celulares normais e mecanismos como a supressão tumoral dessas células modificadas.

É importante destacar que, apesar desses fatos carregarem preocupações acerca da terapia usando CRISPR, não há registros científicos que indiquem que o sistema possa promover crescimento de neoplasias ou tumores malignos, mesmo quando as modificações fora do gene alvo ocorrem.

Com o aprimoramento dessa técnica nos próximos anos, a aplicações do CRISPR na área da oncologia é muito promissora e possui um potencial significativo para o desenvolvimento dos estudos para um maior entendimento desse tipo de doença, assim como possibilitando o desenvolvimento de tratamentos mais eficazes e bem direcionados para as células cancerosas.


Jennifer A. Doudna e Emmanuelle Charpentier – Vencedoras do Nobel de Química 2020 pela descoberta da técnica CRISPR.

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